Dr Murilo Oliveira | WhatsApp

Sinequias uterinas (síndrome de Asherman)

Por Dr. Murilo Oliveira

Sinequias uterinas ou síndrome de Asherman: se você já passou por algum procedimento uterino e está com dificuldade para engravidar, precisa entender como essas condições podem afetar a fertilidade. 

Primeiramente, vamos lembrar que o útero é responsável por receber o embrião e sustentar o feto durante toda a gravidez. Trata-se de um órgão oco, pois em sua cavidade deve ter espaço para o crescimento fetal. Além disso, o útero é capaz de se expandir enquanto o bebê cresce.

As sinequias uterinas são aderências ou “pontes” de tecido cicatricial que podem se formar na cavidade do útero, após a realização de procedimentos uterinos, como curetagem. Geralmente é uma condição assintomática, mas pode causar alterações no ciclo menstrual e infertilidade.

Essas aderências ocupam parte do espaço intrauterino. Quando se desenvolvem de forma severa, chegam a provocar a completa obstrução da cavidade do útero, recebendo o nome de síndrome de Asherman.

Causas das sinequias uterinas

As sinequias uterinas geralmente se formam em resposta a lesões na camada basal do endométrio, revestimento interno da parede uterina. Os traumas endometriais podem acontecer durante procedimentos médicos.

A curetagem para esvaziamento do útero após aborto ou a aspiração manual intrauterina (AMIU) são as principais causas da formação das sinequias uterinas. Durante a cicatrização das feridas dentro do útero, ocorre o processo de fibrose, causando as aderências.

A síndrome de Asherman também pode surgir após outros tipos de cirurgias no útero, como histeroscopia para retirada de miomas e pólipos endometriais. Inclusive, pode ser secundária e reaparecer após o tratamento cirúrgico das próprias sinequias.

A prevalência exata não é conhecida, visto que muitas mulheres desenvolvem sinequias assintomáticas. Alguns estudos mostram que as aderências intrauterinas são encontradas em até 40% das pacientes que passaram por curetagem.

Sinais e sintomas da síndrome de Asherman

Sinequias uterinas isoladas geralmente não causam sintomas. Nos casos mais severos, a síndrome de Asherman pode causar alterações menstruais, como: fluxo reduzido ou ausência de menstruação e dores causadas pela obstrução do fluxo.

Quando aos problemas reprodutivos, a síndrome de Asherman pode provocar infertilidade, abortamento, placentação anormal (por exemplo, placenta acreta ou retenção placentária), parto prematuro e baixo peso ao nascer.

A infertilidade ocorre devido à falha de implantação do embrião, que encontra um endométrio anatomicamente alterado e menos vascularizado. A redução do espaço na cavidade do útero está associada com os abortamentos e as outras complicações obstétricas.

Avaliação diagnóstica das sinequias uterinas

O diagnóstico é feito com exames de imagem, que podem incluir:

  • ultrassonografia transvaginal;
  • histerossonografia;
  • histerossalpingografia;
  • ressonância magnética da pelve.

A principal técnica para confirmar o diagnóstico e fazer o tratamento de doenças da cavidade uterina é a histeroscopia, que possibilita a visualização direta da parte interna do órgão. Assim, em um só procedimento, podemos avaliar e tratar as sinequias uterinas.

Na investigação da infertilidade, esses exames também podem ajudar na identificação de outras alterações. Nesse processo de avaliação, que deve ser extenso e personalizado, precisamos verificar vários aspetos.

Quando há falhas de implantação embrionária, são três fatores principais que devem ser observados: a qualidade dos óvulos; a qualidade dos espermatozoides; e a receptividade uterina, isto é, as condições do útero em relação a fatores anatômicos, imunológicos e hormonais.

A síndrome de Asherman, portanto, é um importante fator quando falamos em condições anatômicas e funcionais do útero. Sendo assim, uma investigação bem-feita faz toda a diferença antes das tentativas de gravidez, pois quando identificamos precocemente problemas como esse, podemos evitar frustrações e complicações, como o abortamento. 

Tratamento das sinequias uterinas

O tratamento geralmente é feito com histeroscopia para lise (remoção) das sinequias uterinas. Entretanto, nem todas as mulheres diagnosticadas recebem indicação para a cirurgia. Podem ser indicadas para tratamento cirúrgico as pacientes que têm sintomas (dores e distúrbios menstruais) e infertilidade.

A cirurgia pode melhorar a fertilidade, pois ajuda a recuperar a anatomia normal da cavidade endometrial, normalizar a vascularização intrauterina e liberar as áreas da endocérvice e dos óstios tubários, quando essas entradas ficam obstruídas. Após o procedimento, a paciente pode apresentar a recorrência da formação de aderências. Devido a esse risco, recomenda-se a reavaliação algumas semanas depois.

Nem sempre o tratamento cirúrgico é suficiente para que a gravidez aconteça. Isso porque outros fatores de infertilidade conjugal também devem ser avaliados. Com uma investigação completa, o casal pode constatar, além da síndrome de Asherman, fatores ovulatórios ou tubários, alterações masculinas, entre outros.

A partir de evidências individualizadas, podemos otimizar a saúde reprodutiva de cada casal, começando com medidas simples, como mudanças no estilo de vida. Como abordagem mais avançada, a fertilização in vitro (FIV) é uma opção.

A sua dificuldade para engravidar pode estar relacionada à presença de sinequias uterinas ou a diversos outros fatores. Somente com uma avaliação consistente, conseguimos encontrar e solucionar esses problemas.

Acreditar é essencial, mas ter atitude é o que faz a diferença. Então, o primeiro passo para superar os desafios da sua infertilidade é buscar ajuda médica especializada!