A qualidade dos gametas (óvulos e espermatozoides) é fator determinante para formar bons embriões e permitir que a gravidez aconteça e evolua de forma saudável. Na reprodução humana assistida, temos técnicas que ajudam a selecionar os gametas de melhor qualidade, como o preparo seminal.
Também chamado de capacitação espermática ou processamento seminal, esse procedimento envolve diferentes métodos laboratoriais para obter uma amostra de sêmen contendo apenas os espermatozoides capazes de fertilizar um óvulo. Para isso, os gametas precisam ter morfologia normal e motilidade progressiva.
A morfologia normal dos espermatozoides potencialmente fertilizantes inclui cabeça oval com contorno regular, peça intermediária e cauda longa de calibre uniforme. Essas características auxiliam na movimentação dos gametas. Por incrível que pareça, apenas 4 em cada 100 espermatozoides são morfologicamente normais, considerando um espermograma com morfologia normal.
A motilidade dos espermatozoides refere-se à capacidade deles se movimentarem. A motilidade progressiva, em específico, diz respeito à movimentação direcionada e contínua. É assim que os gametas precisam se mover para avançar em direção ao óvulo.
Hábitos de vida saudáveis — nutrição adequada, prática regular de atividades físicas e abstenção ou consumo reduzido de álcool, tabaco e outras substâncias nocivas ao organismo — são essenciais para otimizar a qualidade dos espermatozoides. Suplementação vitamínica e de antioxidantes também pode ser útil para melhorar a saúde reprodutiva.
O preparo seminal é uma etapa fundamental dos tratamentos de reprodução humana com inseminação intrauterina e fertilização in vitro (FIV). Essas técnicas podem ser indicadas para diversos fatores de infertilidade conjugal.
O processamento seminal garante uma amostra de sêmen com maior concentração de espermatozoides móveis e morfologicamente normais. É uma técnica útil tanto na preparação para os tratamentos de reprodução quanto para a avaliação detalhada da fertilidade masculina.
O espermograma é a principal ferramenta para avaliação do sêmen e dos espermatozoides. Embora o resultado não seja um atestado de fertilidade ou infertilidade, o exame norteia a investigação diagnóstica complementar para aprofundar o estudo do fator masculino. O espermograma com capacitação ou teste de prognóstico seminal pode ser solicitado de forma individualizada para uma análise mais aprofundada das condições espermáticas.
O preparo seminal permite selecionar os melhores espermatozoides, de forma que podemos ter uma avaliação mais precisa do real potencial reprodutivo do homem. Os métodos empregados simulam as condições que os espermatozoides encontrariam no trato reprodutivo feminino.
No processo natural da reprodução humana, é o próprio corpo da mulher que se encarrega de fazer a capacitação espermática e a seleção dos melhores espermatozoides. Prova disso é que mais de 50 milhões de gametas masculinos podem entrar no trato reprodutivo feminino, mas aproximadamente 1% apenas consegue chegar nas tubas uterinas, onde ocorre a fecundação do óvulo.
Somente os espermatozoides mais preparados, sobretudo em termos de motilidade, conseguem passar pelas barreiras do trajeto, tanto no corpo feminino quanto no preparo seminal.
As técnicas mais utilizadas para o preparo seminal são: lavagem simples, migração ascendente ou swim-up e gradiente descontínuo de densidade. Há também o dispositivo de microfluidos, um método mais recente e que tem demonstrado bons resultados.
O método de lavagem simples é frequentemente utilizado na preparação para a inseminação intrauterina e fornece o maior rendimento de espermatozoides. O procedimento inclui a remoção do plasma seminal e a centrifugação da amostra. Os gametas sobrenadantes são aspirados e descartados.
A migração ascendente (swim-up) é uma técnica simples de preparo seminal, realizada para uso do sêmen na FIV. Esse método seleciona os gametas por sua motilidade, portanto, é útil quando as amostras seminais apresentam um baixo percentual de espermatozoides móveis.
O objetivo da migração ascendente é que os gametas que se movimentam mais rápido alcancem a superfície do meio de cultura. O líquido é colocado por cima do sêmen liquefeito, sem ter passado pela centrifugação da lavagem simples. Os gametas com boa motilidade devem nadar para fora do plasma seminal e entrar no meio de cultura. Assim, os espermatozoides móveis progressivos são selecionados.
O preparo seminal com gradiente de densidade envolve a filtração dos espermatozoides com soluções de densidades distintas, que permitem separar os gametas móveis dos imóveis e mortos, além de células germinativas degeneradas, não germinativas, leucócitos e outros detritos. A técnica é usada no preparo para a FIV.
São adicionados dois líquidos de diferentes densidades no tubo de ensaio, ficando o mais leve por cima. O sêmen é colocado acima das duas camadas e o tubo é centrifugado. Os espermatozoides com melhor motilidade conseguem se deslocar para o fundo do tubo, enquanto os imóveis e os demais detritos ficam retidos nas outras camadas.
Esse é um método mais recente e efetivo. Consiste no uso de uma placa com chip de microfluidos (Zymot, Leenshook, entre outras) que seleciona os espermatozoides com motilidade progressiva. Além de obter uma amostra com gametas móveis, essa técnica tem menor exposição das células a espécies reativas a oxigênio, resultando na recuperação de espermatozoides com menor fragmentação do DNA.
Cada preparo seminal é analisado e indicado de forma individual, assim como todas as técnicas da reprodução humana assistida. Os tratamentos são personalizados, traçados minuciosamente de acordo com as características de cada pessoa e casal. Somente assim, podemos superar fatores específicos de infertilidade para alcançar o objetivo principal: ter uma gravidez bem-sucedida.