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Pólipo endometrial

Por Dr. Murilo Oliveira

O seu útero é o lugar onde o seu filho vai se desenvolver até estar pronto para vir ao mundo. Para cumprir essa nobre função, o útero precisa estar saudável e oferecer um ambiente favorável ao embrião/feto. No entanto, alterações estruturais, como o pólipo endometrial, podem interferir negativamente.

Pólipo endometrial é o nome dado a crescimentos anormais de glândulas do endométrio, revestimento interno do útero. Essa neoformação se projeta para dentro da cavidade uterina e varia de tamanho, podendo ter poucos milímetros ou ser grande o suficiente para ocupar todo o espaço intrauterino. Além disso, os pólipos podem aparecer sozinhos ou múltiplos.

Tanto na idade reprodutiva quanto na pós-menopausa, as mulheres podem apresentar pólipos endometriais. Embora a doença seja diagnosticada em qualquer faixa etária, é mais comum entre os 40 e 49 anos.

Uma pequena fração dos casos de pólipo endometrial, de aproximadamente 1%, pode apresentar transformação maligna e dar origem a um câncer de endométrio. O risco é maior para mulheres com pólipos grandes e na pós-menopausa. Outros fatores de risco são obesidade, hipertensão, terapia de reposição hormonal e uso de tamoxifeno (medicamento usado para tratar câncer de mama).

Causas de pólipo endometrial e fatores de risco

A causa do surgimento de pólipo endometrial não é completamente conhecida. O que se sabe é que a doença está relacionada à estimulação do hormônio estrogênio. As lesões podem resultar da concentração aumentada dos receptores de estrogênio e de uma expressão reduzida dos receptores de progesterona.

Tanto o estrogênio quanto a progesterona são importantes hormônios reprodutivos femininos, produzidos nos ovários. A função de ambos durante o ciclo menstrual é preparar o endométrio para receber um embrião. 

A ação estrogênica ativa o crescimento das células endometriais para aumentar a espessura do tecido, enquanto a progesterona tem efeito secretório e controla atividade proliferativa do estrogênio, melhorando a receptividade endometrial.

Na fisiopatologia dessa doença, como há um aumento dos receptores de estrogênio e atividade reduzida dos receptores de progesterona, ocorre o crescimento excessivo das glândulas, formando o pólipo endometrial.

Entre os fatores de risco estão as condições que aumentam a exposição ao estrogênio ao longo da vida, como sobrepeso e obesidade, terapia hormonal para controlar o hipoestrogenismo na menopausa e uso de tamoxifeno.

A endometrite, inflamação crônica do endométrio, é outra condição que favorece o surgimento de pólipo endometrial, pois envolve a secreção de citocinas pró-inflamatórias e fatores de crescimento. Tanto a endometrite quanto o pólipo tornam o ambiente uterino inapropriado para a implantação do embrião, portanto, ambos podem causar infertilidade.

Sintomas de pólipo endometrial

Na maioria dos casos, os pólipos endometriais são assintomáticos. O sintoma mais frequente é o sangramento uterino anormal, que parece aumentar com a idade.

O sangramento anormal pode se apresentar de diversas maneiras, como:

  • fluxo menstrual abundante;
  • períodos menstruais prolongados;
  • sangramento na pós-menopausa;
  • escapes fora dos dias de menstruação;
  • sangramento após a relação sexual;
  • dor na relação sexual também é uma queixa de algumas pacientes.

Além dos sintomas listados, a infertilidade está associada ao pólipo endometrial. Há vários fatores que justificam essa relação, como: 

  • obstrução mecânica — o pólipo pode impedir a passagem dos espermatozoides, bloqueando o canal cervical ou a entrada da tuba uterina;
  • dificuldade de implantação do embrião, quando o pólipo é grande e ocupa muito espaço dentro do útero;
  • resposta inflamatória endometrial, exercendo efeitos tóxicos aos espermatozoides ou mesmo inibindo a implantação e o desenvolvimento embrionário.

Exames para o diagnóstico de pólipo endometrial

Uma investigação bem realizada é um passo fundamental tanto para o diagnóstico do pólipo endometrial quanto de diversas outras condições que possam causar infertilidade. Quando identificamos o problema precocemente, temos mais possibilidades para superá-lo 

Primeiramente, os sintomas são avaliados e o exame físico especular é feito. Se a paciente tiver pólipo endocervical, é possível identificá-lo já na primeira consulta. Além disso, com o recurso do ultrassom em consultório, podemos fazer uma avaliação inicial da reserva ovariana e de outras potenciais alterações uterinas que possam prejudicar a fertilidade.

Os exames de imagem têm papel importantíssimo na investigação de alterações no útero. A ultrassonografia transvaginal geralmente é a primeira técnica realizada, contudo ela é operador-dependente, ou seja, depende da experiência do médico que está fazendo o exame. O ultrassom também pode ser feito com Doppler, pois assim revela a vascularização de neoformações.

Outros exames importantes são: histerossonografia, histerossalpingografia e ressonância magnética da pelve. Além destes, temos a histeroscopia, que é considerada a técnica padrão ouro para diagnosticar e tratar doenças da cavidade uterina.

A histeroscopia também permite a realização de biópsia do endométrio. Os fragmentos de tecido endometrial coletados são enviados para análise anatomopatológica, o que é importante para identificar se há malignidade — ainda que essa possibilidade seja mínima.

Contudo, a histeroscopia cirúrgica é considerada um procedimento que, na maioria das vezes, precisa ser realizado no centro cirúrgico sob anestesia. A histerossonografia, por outro lado, aparece como um exame pouco invasivo, realizado ambulatorialmente, com desconforto leve/mínimo e que permite o diagnóstico preciso de pólipo endometrial ou outras alterações estruturais do útero que poderiam afetar a fertilidade feminina.

Opções de tratamento para pólipo endometrial

Para definir o tratamento, é preciso levar em conta os seguintes aspectos: planos de gravidez; presença de sintomas; se a paciente está em idade reprodutiva ou na pós-menopausa; tamanho do pólipo endometrial.

A principal forma de tratamento é a histeroscopia cirúrgica. A fertilidade da mulher pode melhorar após a excisão histeroscópica dos pólipos endometriais. Entretanto, é importante conversar com o médico especialista para conhecer todas as suas possibilidades.

Segundo a literatura, a cirurgia é indicada para mulheres com pólipos acima de 1 cm. Nos casos de tratamento para superar a infertilidade, recomendamos a excisão em qualquer tamanho, para não ter o risco de que esse pequeno pólipo prejudique as chances de implantação do embrião. Contudo, é uma decisão conjunta entre médico e paciente se será realizado o procedimento ou se será feito o acompanhamento clínico.

Vale lembrar que a melhora da fertilidade também depende de outros fatores. Além das boas condições uterinas, precisamos avaliar: idade materna, função ovulatória, reserva ovariana, permeabilidade das tubas uterinas e fertilidade do parceiro.

Além do tratamento do pólipo endometrial, depois de uma avaliação completa e individualizada do casal, podemos otimizar a saúde reprodutiva com medidas simples. Caso seja necessário, avaliamos a possibilidade de partir para uma técnica mais avançada, como a fertilização in vitro (FIV). O mais importante é que o tratamento seja personalizado e que você e seu parceiro se sintam seguros para dar o próximo passo.