Ovodoação e ovorrecepção são opções que podem ajudar pessoas em diferentes condições de infertilidade: as doadoras são beneficiadas com a possibilidade de reduzir o custo do seu tratamento de reprodução; as receptoras, que não conseguem engravidar com óvulos próprios, obtêm o material genético para esse objetivo. Para muitas mulheres e casais, por exemplo, a ovorrecepção pode ser o único caminho para ter a experiência de uma gravidez.
Com a ovodoação, uma mulher cede seu material biológico (os óvulos) para outra família. Os óvulos são fertilizados com o espermatozoide da família receptora em laboratório e os embriões gerados são transferidos para o útero da futura mãe.
A ovorrecepção, por sua vez, é uma opção valiosa para mulheres que não têm mais óvulos em quantidade e/ou qualidade suficiente para formar embriões saudáveis. Também é importante no tratamento de reprodução de casais homoafetivos masculinos ou de homens solteiros que buscam a paternidade independente.
Os tratamentos com ovodoação e ovorrecepção somente podem ser realizados no contexto da fertilização in vitro (FIV), técnica de reprodução assistida que envolve a coleta dos gametas e a fecundação em ambiente laboratorial, sendo um processo cuidadosamente controlado e com altas taxas de sucesso.
Conheça as duas técnicas de forma detalhada!
A ovodoação é uma possibilidade para mulheres jovens que desejam congelar óvulos ou que têm indicação para realizar uma FIV, desde que tenham óvulos em boa quantidade e qualidade. Parte desses óvulos podem ser doados para outro casal infértil e, com isso, a doadora tem uma redução nos custos de seu tratamento.
Há duas formas de ovodoação permitidas pelo Conselho Federal de Medicina (CFM): voluntária e compartilhada.
A ovodoação voluntária ou altruísta ocorre quando uma mulher tem a atitude de ceder seus gametas, sem nenhum tipo de compensação, para que outra mulher ou casal possa utilizá-los para tentar engravidar.
Nessa modalidade, todos os óvulos são doados de maneira anônima ou para uma parente de até 4º grau. Já na ovodoação compartilhada, a doadora e a receptora estão realizando tratamento de reprodução humana. Assim, a doadora doa metade dos óvulos viáveis e fica com a outra metade para dar seguimento no seu tratamento ou fazer congelamento de óvulos.
Muitas mulheres optam por doar seus óvulos para ter a redução de custos. Dessa forma, dois casais, com diferentes contextos de fertilidade, podem ser beneficiados ao mesmo tempo.
Outro contexto comum na ovodoação compartilhada inclui as mulheres jovens que desejam congelar seus óvulos para preservação da fertilidade. Na modalidade conhecida como “freeze and share”, a doadora pode congelar metade dos óvulos captados e doar a outra metade.
A ovodoação compartilhada permite a redução no custo do próprio tratamento e a oportunidade de ajudar casais que precisam da ovorrecepção para engravidar. Todas essas possibilidades que devem ser discutidas com o médico.
Veja como a doadora de óvulos participa do tratamento com essa técnica:
O primeiro passo é a estimulação ovariana para promover o desenvolvimento de um bom número de folículos. Isso é feito com a administração de medicações hormonais e o acompanhamento ultrassonográfico.
Quando os folículos ovarianos atingem o tamanho esperado, a mulher recebe uma medicação específica para promover o amadurecimento final dos óvulos e induzir a ovulação. Então, os folículos são aspirados e os óvulos são selecionados para fertilização ou congelamento.
Na ovodoação compartilhada, que é a modalidade mais comum, os óvulos coletados são divididos entre a doadora e o casal receptor e cada qual segue com seu tratamento. Os óvulos são fecundados com os espermatozoides dos respectivos parceiros e, por último, os embriões são transferidos para o útero de cada mulher.
Quando a intenção da doadora é fazer a preservação da fertilidade, sua parte dos óvulos é congelada e poderá ser utilizada no futuro.
A ovorrecepção pode ser indicada para mulheres que não conseguem engravidar com óvulos próprios, por exemplo, nas seguintes situações:
A ovorrecepção também é indicada para os casais homoafetivos masculinos ou homens solteiros que desejam ter filhos biológicos. Esses pacientes precisam tanto da doação de óvulos quanto de uma cedente temporária de útero (barriga solidária).
Saiba mais sobre as opções que o casal tem para receber os óvulos:
No Brasil, a doação de gametas não pode envolver lucros e comercialização. No entanto, é permitida essa modalidade de receber os óvulos e compartilhar os gastos do tratamento entre doadora e receptora. Essa é uma forma muito comum de adquirir os óvulos.
O CFM permite que a doação de gametas seja feita por parentes de até 4º grau, desde que não incorra em consanguinidade. Nesse caso, os óvulos devem ser doados por alguma mulher da família da receptora, pois eles serão fertilizados com os espermatozoides do parceiro dela — se os óvulos fossem recebidos de parentes dele, haveria consanguinidade.
Esse tipo de ovodoação é voluntária, visto que a mulher que cede seus óvulos tem a atitude deliberada, movida pela intenção única de ajudar o casal receptor.
Outro tipo de aquisição de óvulos envolve os bancos de óvulos — assim como existem os bancos de sêmen. Nesse caso, a mulher que deseja doar seu material genético procura centros especializados e realiza os procedimentos necessários. Então, os óvulos são coletados e congelados e ficam disponíveis para que um casal os escolha.
Há vários critérios para que uma mulher possa ser doadora de óvulos, como: ter, preferencialmente, idade entre 18 e 35 anos; boa reserva ovariana; não ter infecções transmissíveis, nem alterações genéticas. Além disso, a doadora deve ter a maior quantidade possível de semelhanças fenotípicas com o casal receptor.
Seja voluntária ou compartilhada, a doação deve ser anônima, isto é, a doadora e o casal receptor não podem ter acesso às informações sobre a identidade um do outro — a doação por parte de parentes é uma exceção a essa regra.
O casal receptor não passa pela primeira etapa do tratamento convencional, que seria a estimulação ovariana seguida da coleta dos óvulos. Então, as etapas realizadas incluem: preparação do útero para receber o embrião, coleta e preparo do sêmen, fertilização dos óvulos doados, cultivo embrionário e transferência para o útero da receptora.
No tratamento com compartilhamento de óvulos, é preciso fazer a sincronização do ciclo menstrual das duas mulheres. A doadora passa pela estimulação ovariana e, em paralelo, a receptora realiza o preparo uterino para receber seus embriões na fase do ciclo em que o útero fica receptivo e pronto para a implantação embrionária.
Para o casal que utiliza banco de óvulos, essa sincronização não é necessária, pois escolhemos o melhor momento do ciclo da paciente para descongelar os óvulos.
É importante que todos os participantes passem por avaliação médica detalhada e otimização da fertilidade. Assim, temos um tratamento seguro, com boas chances de sucesso e benefícios para todos os envolvidos.
As altas taxas de sucesso da ovorrecepção se devem ao fato de utilizarmos óvulos jovens, com boa qualidade. Isso é especialmente importante no cenário atual, no qual vemos uma tendência social em adiar a maternidade para depois dos 35 anos, quando há um declínio acentuado da qualidade dos óvulos. No entanto, são as mulheres com 40 anos ou mais que têm maior probabilidade de precisar recorrer à ovorrecepção para maximizar as chances de gravidez.
Engravidar com ovorrecepção permite vivenciar a gravidez da mesma forma que seria com óvulos próprios, acompanhando o desenvolvimento do bebê, sentindo cada movimento dele e formando o vínculo afetivo desde o início da gestação.