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Miomas

Por Dr. Murilo Oliveira

Miomas ou leiomiomas são tumores benignos que se originam na camada muscular do útero. Muitas pessoas associam essa doença à infertilidade feminina, visto que pode alterar a anatomia uterina. Entretanto, não são todos os tipos de mioma que dificultam a gravidez.

Há três tipos de leiomioma: submucoso, intramural e subseroso. São classificados de acordo com sua localização na parede uterina, que é formada por três camadas de tecido: a mais interna, onde o embrião se implanta, é o endométrio; a medial, constituída de musculatura lisa, é o miométrio; a mais externa é a camada serosa ou perimétrio.

O mioma submucoso é o que cresce na direção do endométrio; o intramural cresce dentro do miométrio; o subseroso se projeta para a camada externa do útero. Dentre esses, o mioma com componente submucoso é o que mais coloca a fertilidade em risco, visto que pode atrapalhar o processo de implantação do embrião. 

Além disso, dependendo do tamanho e da quantidade de miomas, o espaço intrauterino pode ficar reduzido, prejudicando o crescimento fetal. Algumas complicações obstétricas associadas são abortamento espontâneo e parto prematuro. No entanto, há mulheres que conseguem engravidar e ter uma gestação saudável.

Além da classificação já descrita dos miomas, há uma escala proposta pela Federação Internacional de Ginecologia e Obstetrícia (FIGO) que permite determinar de forma mais precisa a extensão da invasão no endométrio. Veja a classificação numérica dos miomas:

  • Grau 0- intracavitário (todo projetado para o endométrio);
  • Grau 1- submucoso com menos de 50% intramural; 
  • Grau 2- submucoso com mais de 50% intramural; 
  • Grau 3- intramural tangenciando o endométrio; 
  • Grau 4- intramural; 
  • Grau 5- subseroso com mais de 50% intramural; 
  • Grau 6- subseroso com menos de 50% intramural; 
  • Grau 7- subseroso pediculado; 
  • Grau 8- cervical ou parasitário.

Causas e fatores de risco para o desenvolvimento de miomas

As causas exatas não estão bem esclarecidas, mas sabe-se que os miomas se desenvolvem devido a mutações celulares e têm forte influência dos hormônios esteroides ovarianos, estrogênio e progesterona.

Podemos dizer que se trata de uma doença multifatorial, pois envolve fatores genéticos, hormonais e até ambientais. Entre os fatores de risco observados, estão:

  • nuliparidade (nunca ter engravidado);
  • diagnóstico de mioma na família;
  • sobrepeso e obesidade;
  • raça negra;
  • menarca precoce;
  • menopausa tardia.

A prevalência não é exata, pois muitos casos são assintomáticos e não chegam a ser notificados. Estima-se que até 80% das mulheres possam ter algum tipo de mioma, com mais frequência em idade reprodutiva mais avançada, embora mulheres mais jovens também sejam diagnosticadas.

Sintomas de miomas

Os sintomas são variáveis. Existem desde pacientes assintomáticas até aquelas com manifestações exuberantes que afetam a saúde e a qualidade de vida. Fatores determinantes para a presença de sintomas são a localização, o tamanho e o número de miomas.

Os possíveis sintomas são:

  • sangramento uterino anormal (fluxo menstrual excessivo ou por período prolongado);
  • cólicas;
  • dor pélvica;
  • sensação de pressão no baixo abdome;
  • distensão abdominal;
  • dor na relação sexual;
  • anemia, quando o sangramento é frequentemente abundante;
  • alterações urinárias e intestinais, quando o mioma é volumoso e pressiona a bexiga ou o intestino.

Quanto aos impactos reprodutivos e obstétricos, os miomas podem causar dificuldade para engravidar, abortamento de repetição, restrição do crescimento fetal, parto prematuro ou mesmo dificuldade para o nascimento do bebê em parto normal. A depender da sua localização, pode também aumentar risco de complicação em cesarianas.

Investigação diagnóstica dos miomas

O diagnóstico requer avaliação da história clínica e exame físico, que pode identificar um útero aumentado e em formato irregular. Exames de imagem são importantes para avaliar o número, a localização e o tamanho dos miomas.

A ultrassonografia transvaginal é a principal técnica de diagnóstico por imagem utilizada na investigação dos miomas. A histerossonografia (ultrassom com solução fisiológica para dilatar o útero) também tem boa acurácia, principalmente para aqueles miomas que podem afetar a fertilidade.

A ressonância magnética da pelve é outra técnica útil na avaliação diagnóstica. Além de identificar os miomas, permite determinar a extensão da vascularização ou a degeneração dos miomas.

Tratamento dos miomas

A idade e os planos de gravidez da paciente direcionam a estratégia de tratamento. De modo geral, as opções incluem uso de medicação, cirurgia e técnicas de reprodução humana assistida. Os objetivos são: aliviar sintomas, reduzir o tamanho do tumor e melhorar a fertilidade.

O tratamento medicamentoso pode ser feito com terapia hormonal, fármacos anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs) e modulação do eixo hipotálamo-hipófise, responsável pela secreção dos hormônios que coordenam o ciclo menstrual.

O tratamento cirúrgico é uma opção quando: não há remissão dos sintomas com o uso de medicação; os miomas são volumosos e pressionam os órgãos vizinhos; a paciente tem intenção de engravidar.

A miomectomia (remoção cirúrgica de miomas com preservação do útero) pode ser feita por histeroscopia, videolaparoscopia ou cirurgia robótica. Ainda assim, algumas mulheres precisam de técnicas especializadas para engravidar.

Entre os tratamentos de reprodução humana, a fertilização in vitro (FIV) é uma alternativa importante para aumentar as chances de gravidez. A técnica é realizada em várias etapas, que permitem o controle minucioso do processo conceptivo em ambiente laboratorial — desde o estímulo ao desenvolvimento dos óvulos até o momento de transferir o embrião para o útero.

A FIV tem altas taxas de sucesso diante de variados fatores de infertilidade. Entretanto, a cirurgia para remoção dos miomas é indicada antes das tentativas de gravidez — espontânea ou por FIV —, visto que o útero precisa estar em boas condições anatômicas para favorecer a implantação do embrião e o desenvolvimento gestacional. 

Se tiver indicação para FIV, geralmente: fazemos o tratamento com congelamento de todos os embriões; realizamos a retirada dos miomas que afetam a fertilidade; e, após o período de recuperação do útero, realizamos a transferência embrionária para um útero mais receptivo. Essa é uma das estratégias que podemos utilizar, contudo todo processo é sempre individualizado para maior benefício do casal.

Ainda que os miomas sejam diagnosticados e tratados, é importante que o casal infértil seja avaliado com um olhar individualizado. Tanto a mulher quanto o homem precisam de atenção médica. A investigação aprofundada dos fatores de infertilidade é o passo inicial para a realização do sonho de construir e fortalecer a sua família.