Existe uma ideia sociocultural equivocada que atribui principalmente à mulher a dificuldade de um casal engravidar, mas você sabia que o problema pode estar no seu parceiro? Os fatores de infertilidade masculina muitas vezes não são identificados porque são negligenciados durante a investigação diagnóstica.
Pode-se dizer que 30% dos casos de infertilidade estão relacionados a problemas da mulher e 30% do homem. Além disso, em outros 30%, há fatores de ambos. Por isso, temos que seguir o passo a passo na investigação e sempre avaliar o casal de maneira completa. Em cerca de 10%, não é possível chegar a um diagnóstico, caracterizando a condição chamada de infertilidade sem causa aparente (ISCA).
A infertilidade masculina pode resultar de falhas na produção dos espermatozoides, baixa qualidade desses gametas ou problemas no trajeto até que sejam ejaculados.
Em resumo, o sistema reprodutor masculino funciona da seguinte forma:
Existem várias doenças e alterações que podem prejudicar alguma etapa desse processo de produção, amadurecimento, transporte e liberação dos espermatozoides — desde hábitos de vida que afetam os níveis hormonais até obstruções que impedem o transporte e ejaculação dos gametas. Somente com uma avaliação completa e especializada é possível encontrar as causas e ampliar as possibilidades de tratamento.
Diversas condições — inclusive, algumas assintomáticas e que não levantam suspeita — podem causar infertilidade masculina. Pensar que o problema está na mulher porque, por exemplo, o homem já tem um filho de um relacionamento anterior é uma ideia equivocada, pois é possível desenvolver alterações e se tornar infértil no decorrer da vida.
Conheça as principais causas de infertilidade masculina:
A testosterona é o principal hormônio masculino, mas outros também são importantes e influenciam o funcionamento adequado do sistema reprodutor, como LH, FSH, TSH, prolactina, entre outros. Doenças endócrinas e diversos fatores do estilo de vida podem causar desequilíbrio hormonal e afetar a produção dos espermatozoides, bem como a função sexual.
As disfunções hormonais são consideradas causas pré-testiculares de infertilidade masculina.
Varicocele é uma alteração testicular relacionada a falhas no retorno venoso, o que leva à dilatação das veias dos testículos, aumento da temperatura local e redução da oxigenação. A doença torna o ambiente intratesticular inadequado para a produção dos espermatozoides e compromete sua qualidade.
Homens com histórico de parotidite (caxumba) e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como clamídia e gonorreia, devem ficar atentos à possibilidade de infertilidade. Essas doenças provocam inflamações no trato genital que podem causar obstruções que impedem a passagem dos gametas devido à formação de tecido cicatricial.
Alguns homens também podem ter infertilidade devido a anomalias genéticas e cromossômicas, como a síndrome de Klinefelter e a microdeleção do cromossomo Y. Da mesma forma, defeitos congênitos, como criptorquidia ou ausência bilateral dos ductos deferentes, afetam a capacidade reprodutiva masculina.
Estresse, tabagismo, consumo excessivo de álcool, obesidade, sedentarismo, uso de determinadas medicações e de testosterona injetável, práticas esportivas extenuantes, entre outros fatores relacionados ao estilo de vida, podem impactar negativamente a fertilidade masculina.
Alguns fatores ambientais e ocupacionais também oferecem risco à fertilidade, por exemplo: radiações ionizantes, contato frequente com determinados produtos químicos e exposição a altas temperaturas.
O avanço da idade é muito associado à infertilidade na mulher, mas, apesar de o homem produzir espermatozoides a vida toda, a qualidade dessas células também é afetada pelo envelhecimento. Após os 45 anos, há um risco maior de alterações na motilidade e na morfologia dos gametas, assim como índices mais altos de fragmentação do DNA espermático. Adicionalmente, alguns trabalhos têm demostrado aumento no risco de autismo e redução na chance de gravidez quando o homens tem mais de 45 anos.
O câncer de testículo é considerado raro. Também é uma possível causa de infertilidade masculina, pois pode levar à perda de tecido testicular saudável e de células germinativas. Além disso, se for necessário fazer uma cirurgia para remoção do tumor — ou até do órgão —, a fertilidade do homem estará comprometida.
Tratamentos para outros tipos de câncer podem causar infertilidade temporária ou definitiva, como a quimioterapia, que tem ação sistêmica (age no corpo todo), e a radioterapia.
Uma investigação completa e focada no casal é o caminho para chegar mais perto da realização do sonho de ter um filho. É normal sentir medo de buscar ajuda quando o assunto é fertilidade, principalmente quando há suspeita de infertilidade masculina, pois o homem apresenta mais resistência para ser avaliado e aceitar o resultado.
Entretanto, é preciso quebrar esse bloqueio. Muitos pacientes têm um conceito construído de forma errônea e que pode estar impedindo a busca por avaliação especializada.
Uma crença muito comum entre os casais que estão tentando engravidar é em relação à normalidade no resultado do espermograma. Além dos parâmetros desse exame (concentração, motilidade, morfologia e vitalidade), existem outras formas de avaliar a fertilidade masculina, e não é o urologista generalista quem faz essa avaliação mais detalhada.
Na consulta com o médico especialista em reprodução humana, toda a história reprodutiva do homem — e do casal — é investigada. Entre as informações pesquisadas, estão:
Após a avaliação clínica do casal e o exame físico da parceira, passamos para os exames adicionais que se ajustam a cada caso, portanto, são indicados de forma individualizada. Assim, estruturamos a investigação da infertilidade em 3 pilares:
Geralmente, o primeiro exame a ser feito pelo homem é uma avaliação laboratorial da saúde geral. A maioria dos homens não fazem uma avaliação médica de rotina e, com frequência, apresentam alterações em perfil lipídico e perfil metabólico. Adicionalmente, também fazemos a avaliação da fertilidade masculina por meio do espermograma. Só reforçando que o espermograma normal não é um atestado de que a fertilidade masculina está bem.
O espermograma é uma ferramenta que ajuda a nortear a investigação, mas existem outros exames que podemos solicitar de forma individualizada para aprofundar a avaliação da fertilidade masculina. Exames adicionais podem incluir espermocultura, teste de prognóstico seminal (ou espermograma com capacitação), teste de fragmentação de DNA espermático, ultrassonografia com Doppler de bolsa testicular, entre outros.
No resultado do espermograma tradicional, a concentração pode estar dentro dos valores de referência, mas não significa que todos esses gametas sejam aptos a fertilizar um óvulo. Podemos, então, realizar o espermograma com capacitação espermática, que avalia a concentração dos melhores espermatozoides, aqueles com potencial de encontrar o óvulo e que tenham sobrevida suficiente para desgastar a camada externa do óvulo e fertilizá-lo.
Outro exame adicional para alguns pacientes é o teste de fragmentação do DNA espermático, que avalia o índice de espermatozoides com danos em seu DNA. Quando a fragmentação se encontra elevada, pode reduzir a qualidade do embrião, podendo levar a falhas de implantação no útero e a abortamento espontâneo.
O nosso passo a passo estratégico para auxiliar os casais com problemas de fertilidade é pautado em: investigação, otimização e avaliação das possibilidades de tratamento com base em evidências individualizadas.
Muitos casais têm receio de procurar um especialista em reprodução humana porque pensam que serão indicados ao tratamento com fertilização in vitro (FIV), mas saiba que, primeiramente, existem outras formas de otimizar o potencial reprodutivo do casal, dependendo do caso.
Adaptar a frequência das relações sexuais ao período fértil da parceira é uma das medidas simples que pode aumentar as chances de gravidez, quando não há fatores graves de infertilidade.
Mudanças de hábitos também são importantes para melhorar a qualidade dos espermatozoides. Muitas vezes, o homem não toma os devidos cuidados porque não recebe o aconselhamento adequado. Entre as condutas indicadas, estão:
Com relação às possibilidades de tratamento da reprodução humana assistida para casais com infertilidade masculina, podemos considerar: inseminação intrauterina (IIU) e FIV com injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI). O termo inseminação artificial (IA) pode ser utilizado genericamente por muitos pacientes como sinônimo de FIV ou de tratamentos em reprodução assistida.
Procedimentos específicos para coletar os espermatozoides nos testículos ou epidídimos também podem ser indicados em casos de azoospermia e outros fatores graves de infertilidade masculina. São eles: PESA, MESA, TESE e Micro-TESE.
A infertilidade conjugal é um desafio compartilhado. Tanto a mulher quanto o homem têm expectativas, dúvidas e inseguranças. Compreender que a jornada para a gravidez envolve a avaliação de ambos é o primeiro passo para aumentar as chances de sucesso e promover o fortalecimento da sua família.
Eu tive infertilidade e o fator era justamente masculino, assintomático. Precisei fazer FIV para ter o meu bem mais precioso e vejo o quanto tudo que fizemos valeu a pena.