As mulheres liberam apenas um óvulo em cada ciclo menstrual e têm cerca de 20% de chances de engravidar, considerando o ápice da fertilidade feminina e que o casal não tenha nenhum fator de infertilidade. Você sabia que com a estimulação ovariana podemos maximizar essas chances, promovendo o desenvolvimento de vários óvulos em um único ciclo?
A estimulação ovariana é uma técnica utilizada nos tratamentos de reprodução humana assistida. O objetivo é fazer vários folículos ovarianos crescerem, administrando medicações hormonais, para termos um número maior de óvulos e, por consequência, maiores chances de fertilização e gravidez.
Para abordar esse tema, precisamos relacionar estimulação ovariana e reserva ovariana, que se refere ao estoque de óvulos que a mulher tem nos ovários. Quando falamos em fertilidade feminina, há dois conceitos importantes: a quantidade e a qualidade dos óvulos.
A mulher nasce com o número total de folículos (cada um com um ovócito armazenado) que poderá desenvolver ao longo da vida. Esse número reduz progressivamente com o passar do tempo, e não há produção de novos óvulos. É a essa quantidade que se refere a reserva ovariana.
A qualidade dos óvulos também vai decaindo conforme a idade avança. A qualidade dos gametas está associada à capacidade de formar embriões saudáveis, cromossomicamente normais e com potencial para estabelecer a implantação de um embrião saudável no útero.
Avaliar a reserva ovariana é uma etapa necessária para definir o protocolo de estimulação mais apropriado para cada mulher, ou seja, o tratamento deve ser personalizado.
A estimulação ovariana é, geralmente, a primeira etapa dos tratamentos de reprodução humana assistida, portanto, é indicada para as mulheres que vão realizar as técnicas: coito programado com indução da ovulação, inseminação intrauterina e fertilização in vitro (FIV).
Nem todas as mulheres que vão se submeter aos tratamentos de infertilidade precisam passar pela estimulação ovariana. Em técnicas de baixa complexidade, caso a paciente não tenha disfunções ovulatórias, é possível tentar engravidar em ciclos não estimulados, apenas monitorando o processo natural de ovulação.
Vale recordar que os ovários são as glândulas sexuais ou gônadas femininas. Eles se localizam um de cada lado do útero, bem próximos às extremidades das tubas uterinas ou trompas de falópio.
Os ovários são os órgãos responsáveis pelo armazenamento, o desenvolvimento e a liberação dos óvulos. Também é função ovariana produzir os hormônios reprodutivos, estrogênio e progesterona, que preparam o útero para a gravidez.
No ciclo ovulatório natural, os hormônios FSH e LH, secretados pelo eixo das glândulas cerebrais hipotálamo e hipófise, estimulam o funcionamento ovariano. O FSH promove o desenvolvimento de um grupo de folículos ovarianos em cada ciclo, enquanto o LH provoca a maturação final do óvulo que será ovulado e a ruptura do folículo dominante (mais desenvolvido).
Na reprodução humana assistida, a estimulação ovariana é indicada para favorecer o recrutamento e o crescimento dos folículos ovarianos, sendo empregada com diferentes protocolos entre as técnicas de baixa (coito programado e inseminação intrauterina) e alta complexidade (FIV).
A estimulação ovariana também é especialmente indicada para mulheres com infertilidade por disfunções ovulatórias, as quais podem ter diversas causas, como: síndrome dos ovários policísticos (SOP), doenças da tireoide, distúrbios hipofisários e determinados fatores do estilo de vida.
O primeiro passo da estimulação ovariana é a avaliação da reserva ovariana. As duas principais formas de fazer essa avaliação na atualidade é a contagem de folículos antrais e/ou a dosagem do hormônio antimülleriano. Com base nisso, e em outras particularidades da paciente, podemos definir o protocolo de estímulo.
Veja como é feita a estimulação ovariana!
Os fármacos hormonais podem ser orais ou injetáveis. Há três categorias de medicação: para estimular o crescimento dos folículos ovarianos; para bloquear a ovulação espontânea, evitando o pico natural do hormônio LH; para simular o pico de LH, funcionando como o gatilho da ovulação no momento certo.
A estimulação hormonal pode começar na primeira fase do ciclo menstrual ou após a ovulação, na segunda fase do ciclo. Nos casos de pacientes que vão se submeter a tratamentos para câncer e optam por fazer a preservação oncológica da fertilidade, o início da estimulação é aleatório, isto é, pode ser feito em qualquer momento do ciclo.
Para definir o momento apropriado de iniciar a estimulação ovariana, também precisamos avaliar se a paciente vai transferir o embrião a fresco (no mesmo ciclo em que é gerado). Nesse caso, o estímulo hormonal deve começar na primeira fase do ciclo menstrual para que o útero esteja em sua fase de receptividade (fase lútea ou pós-ovulatória) para acolher o embrião e favorecer a implantação.
Entre as medicações mais utilizadas na estimulação ovariana, estão:
Após o uso das primeiras medicações, as que estimulam o desenvolvimento folicular, acompanhamos o crescimento dos folículos com exames de ultrassom. No momento apropriado, administramos o fármaco que bloqueia a ovulação espontânea. Por último, quando os folículos atingem o tamanho esperado, utilizamos o indutor que simula o pico de LH e promove a maturação final dos óvulos.
Aproximadamente 80% dos folículos entre 18 e 20 mm terão óvulos maduros. Durante o processo, é preciso avaliar se é viável estimular por mais dias para obter um número maior de folículos com esse tamanho.
Por outro lado, folículos acima do tamanho ideal podem não ter óvulos saudáveis. Além disso, há o risco de a paciente ovular antes da coleta. Portanto, precisamos de um acompanhamento cuidadoso e de uma avaliação criteriosa e individualizada para definir o melhor momento de coletar os óvulos.
É fundamental evitar que os folículos rompam antes da hora, pois se isso ocorrer não é mais possível captar os óvulos, que é o grande objetivo da estimulação ovariana na FIV — isso é diferente nas técnicas de baixa complexidade, nas quais o óvulo deve ser liberado pelo processo de ovulação para que a fertilização aconteça naturalmente no corpo da mulher.
A coleta dos óvulos é marcada com base no dia e hora em que foram aplicadas as últimas medicações que simulam o pico natural do LH e promovem a maturação final do óvulo. É o que chamamos de gatilho ou disparo da ovulação.
No momento da captação dos óvulos, a paciente fica em posição ginecológica e é anestesiada para que o procedimento seja indolor e tranquilo. Com o auxílio do transdutor do ultrassom, que tem um guia em sua ponta, utilizamos uma agulha fina que perfura a parede da vagina e chega ao ovário para aspirar o conteúdo de cada folículo. Em seguida, esse material vai para o laboratório, os óvulos são identificados no líquido folicular e avaliados pelo embriologista.
A coleta de óvulos é um procedimento seguro. Complicações como sangramento, infecção ou lesões são incomuns. Não é necessário repouso absoluto e afastamento do trabalho após o procedimento, a paciente deve ficar em casa apenas no dia da captação, devido à anestesia.
Os protocolos norteiam a conduta, mas a estimulação ovariana é personalizada. Sendo assim, elaboramos estratégias para atender às necessidades de cada paciente, considerando, por exemplo: idade da mulher, estado da reserva ovariana, número de filhos que o casal gostaria de ter, resposta ovariana a estímulos anteriores, condições financeiras etc.
Resumidamente, os protocolos de estímulo ovariano incluem:
NÃO existe o melhor protocolo de estimulação ovariana. Cada mulher apresenta uma resposta diferente. Portanto, a individualização é fundamental para obter bons resultados e extrair o máximo do potencial de cada organismo.
Se necessário, podemos fazer ajustes de protocolo durante a estimulação ovariana, alterando o tipo da medicação ou a dose. Isso depende de como a mulher vai respondendo.
Individualização do tratamento, cuidado e empatia com cada casal fazem toda a diferença. Procure acompanhamento de um médico que olhe com atenção para as suas particularidades, ofereça uma assistência personalizada e caminhe ao seu lado nessa jornada tão importante em direção à realização do sonho de ter o seu filho.