Muitas pessoas ainda pensam que a infertilidade de um casal está mais relacionada a condições femininas, mas essa é uma visão equivocada. Os números de casos de infertilidade feminina e masculina são semelhantes, portanto, a mulher e o homem precisam passar por avaliação. Dentre os exames indicados, está o espermograma.
A análise seminal pode revelar fatores que reduzem o potencial reprodutivo do homem, tais como baixa quantidade de espermatozoides, alterações na motilidade e/ou na morfologia dos gametas.
Embora o espermograma seja uma ferramenta importante para avaliar as condições seminais, seus resultados não devem ser considerados um atestado de fertilidade. O seu grande objetivo, então, é entender a fertilidade masculina e avaliar a necessidade de realizar investigações complementares. Isso porque há outros fatores que precisam ser considerados e que não são revelados nesse exame. Sendo assim, é preciso fazer uma investigação aprofundada, que algumas vezes requer outras técnicas.
O espermograma não é feito para diagnosticar doenças, mas para verificar os parâmetros seminais. Caso tenha resultados alterados, o paciente pode receber indicação para outros exames a fim de investigar as causas da infertilidade. Em outras palavras, alterações no espermograma podem ser sintomas de outras doenças de base, como varicocele, tumores testicular, entre outras.
O espermograma é comumente indicado para o homem na investigação da infertilidade, mas não apenas. O exame também é importante para avaliar os parâmetros seminais após cirurgias de vasectomia, reversão de vasectomia e correção de varicocele.
Em casos de disfunções endócrinas, infecções genitais e outras doenças, o espermograma pode ser indicado para avaliar se houve alteração nas características espermáticas. Da mesma forma, o exame é útil após o paciente realizar tratamentos médicos que oferecem risco à fertilidade, como quimioterapia.
O espermograma tradicional é feito com a análise macroscópica e microscópica de uma amostra de sêmen. Nem sempre os aspectos analisados são suficientes para atestar infertilidade. Os resultados podem revelar normalidade, mas isso não significa que todos os espermatozoides sejam capazes de fecundar um óvulo.
Devemos salientar que a confiabilidade no método laboratorial para execução do espermograma é fundamental para o diagnóstico preciso, pois existe uma variedade muito grande entre os laboratórios, e a utilização de parâmetros desatualizados como referência pode comprometer a interpretação do exame. Um exemplo disso é que muitos exames não utilizam os critérios de avaliação da morfologia de Kruger, parâmetro com maior acurácia para tal avaliação na atualidade.
Uma opção mais apropriada para detalhar a investigação do potencial reprodutivo do homem é o espermograma com capacitação espermática ou teste prognóstico seminal. Dessa forma, é possível avaliar a concentração dos gametas com melhor qualidade, aqueles que são capazes de vencer barreiras para cumprir seu trajeto e apresentam condições adequadas para completar o processo de fertilização.
O espermograma é feito com duas análises: macroscópica e microscópica. Primeiramente, os aspectos físicos do sêmen são avaliados, incluindo: volume ejaculado, cor do líquido, viscosidade e tempo de liquefação.
Em seguida, os espermatozoides são analisados com o auxílio de um microscópio. Nessa etapa do espermograma, as características mais importantes a mensurar são: concentração, motilidade e morfologia. Nesse quesito, é fundamental a técnica do laboratório que faz a análise estar atualizada e o biólogo ter experiência na avaliação.
A concentração é referente à quantidade de gametas. Para o homem ter chances de engravidar sua parceira naturalmente, é preciso liberar milhões de espermatozoides em uma ejaculação. Segundo os valores de referência determinados pela Organização Mundial da Saúde (OMS), o número adequado é de: 15 milhões por ml de sêmen e 39 milhões na amostra total.
A motilidade refere-se à capacidade de se movimentar. Os espermatozoides com mais chances de chegar ao óvulo são aqueles que conseguem se mover de forma direcional e contínua, ou seja, que apresentam motilidade progressiva.
A morfologia espermática tem relação com o formato dos gametas, aspecto que também influencia a capacidade de movimentação e o potencial de fertilização. Os espermatozoides morfologicamente normais apresentam: cabeça oval, parte intermediária e cauda longa.
O homem deve manter abstinência sexual entre 2 e 3 dias antes de coletar o sêmen. Como o testículo produz novos espermatozoides, aproximadamente, a cada 90 dias, a depender do resultado do primeiro espermograma, pode ser necessário solicitar que o paciente faça um novo exame em intervalo maior que 3 meses. Assim, valores médios são determinados após os 2 exames.
O sêmen é coletado por meio da ejaculação, geralmente em sala apropriada na clínica de análises. Em alguns contextos, pode ser autorizada a coleta seminal em ambiente domiciliar. Em seguida, o material é analisado, podendo revelar os seguintes resultados:
Não raro, o homem apresenta a combinação de duas ou mais alterações espermáticas, por exemplo, oligoteratozoospermia (oligo = concentração baixa de espermatozoides; terato = redução no número de gametas morfologicamente normais).
É importante ter a avaliação completa de um médico especialista em medicina reprodutiva, pois o espermograma feito em laboratórios generalistas pode fornecer um parâmetro, mas nem sempre os resultados são precisos. Assim, a fertilidade do homem é mal avaliada e o casal prossegue com dificuldades para engravidar.
Uma investigação mais abrangente das condições masculinas pode ainda incluir:
Para auxiliar os casais com infertilidade, é importante seguir um passo a passo estratégico, que inclui: investigar o homem e a mulher de forma aprofundada; otimizar a saúde de ambos para melhorar a qualidade dos gametas; avaliar as opções de tratamento com um olhar individualizado.
A investigação do homem pode levar ao diagnóstico de diversas condições que interferem na produção, na qualidade ou no transporte e liberação dos gametas. Entre as causas de infertilidade masculina, estão:
Com base na causa da infertilidade e nas demais características do casal, é possível definir um tratamento personalizado, que pode incluir: mudanças no estilo de vida; suplementação vitamínica; uso de medicações; cirurgia, se necessário; técnicas de reprodução humana assistida.
Muitas vezes, o casal não precisa de tratamentos avançados, pois condutas simples podem ajudar, como o cálculo do período fértil, a adaptação da frequência das relações sexuais e a adoção de hábitos saudáveis para otimizar a saúde reprodutiva.
Se o espermograma indicar alterações espermáticas, o casal pode considerar as técnicas de reprodução humana, como preparo seminal associado à inseminação intrauterina e fertilização in vitro (FIV). Dependendo da situação, procedimentos de recuperação espermática também podem ser indicados para coletar os espermatozoides diretamente dos testículos ou epidídimos.
O acompanhamento médico especializado é fundamental para quem deseja ter filhos, mesmo quando o espermograma indica parâmetros seminais normais. Isso porque há muitos fatores, masculinos e femininos, que podem diminuir a fertilidade do casal. Somente com avaliação completa e individualizada, é possível maximizar as chances do tão sonhado resultado positivo de gravidez.