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Como calcular o meu período fértil?

Por Dr. Murilo Oliveira

Quando se fala em infertilidade, é comum as pessoas associarem o tratamento à fertilização in vitro (FIV), mas nem sempre precisamos de uma técnica tão avançada. Sabe por quê? O seu caso pode ser mais simples de resolver do que você imagina, começando pelo conhecimento de como calcular o período fértil.

Não é em qualquer dia do mês que o casal tem chance de concepção. Compreender quais são os dias de maior fertilidade é uma maneira eficiente de aumentar suas probabilidades, desde que você e seu parceiro não tenham problemas no sistema reprodutor a tratar. 

Para começar, é importante entender o que é e como funciona o ciclo menstrual para saber como calcular o período fértil. Dessa forma, você pode ser mais precisa nesse processo de tentativas para começar a dar passos na direção certa.

Fases do ciclo menstrual

A menstruação é resultado da descamação do endométrio, tecido que reveste o útero por dentro. O ciclo menstrual tem início no primeiro dia da menstruação (sangramento com fluxo intenso) e é dividido em duas fases: (1) folicular ou proliferativa e (2) lútea ou secretora. Essas fases ocorrem separadas pelo evento central do ciclo reprodutivo feminino: a ovulação.

Cada fase dura cerca de 14 dias em mulheres que têm ciclos regulares, isto é, que menstruam em intervalos com duração média de 28 dias. Intervalos entre 25 e 30 dias são considerados normais. Já os ciclos com menos de 21 ou mais de 35 dias precisam de avaliação médica, pois podem estar associados a disfunções endócrinas e outras alterações.

Os ciclos femininos se repetem em resposta às interações dos hormônios produzidos no eixo hipotálamo-hipófise-ovários (HHO), desde a menarca (primeira menstruação) até a menopausa (interrupção das funções ovarianas e dos períodos menstruais).

Entenda melhor o que ocorre em cada fase do ciclo menstrual!

Fase folicular

A fase folicular começa no primeiro dia da menstruação e dura até a ovulação. Tudo tem início com a secreção do hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH), que é produzido no hipotálamo e estimula a hipófise a liberar o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH), que estimulam as gônadas — os ovários, no caso da mulher.

Nos primeiros dias da fase folicular, o FSH atua nos folículos ovarianos recrutados, promovendo o desenvolvimento para que um deles possa ovular. O desenvolvimento folicular passa por três estágios: recrutamento, seleção e dominância.

Na metade da fase folicular, ocorre a seleção de um folículo, que se torna dominante e promove seu próprio crescimento, suprimindo o desenvolvimento dos outros folículos, os quais sofrem atresia (degeneração).

Curiosidade: O processo de dominância folicular faz com que a mulher ovule com apenas um único óvulo todo mês, e é por isso que a maioria das gestações são únicas. Para ter uma gravidez gemelar, a mulher precisaria ovular com dois folículos e ter dois óvulos fecundados ou um embrião precisaria se dividir em dois dentro do útero.

Durante essa fase, os níveis do hormônio estrogênio também começam a subir, o que é importante para promover a proliferação das células do endométrio, que deverá ficar na espessura adequada para receber um embrião.

Enquanto o hormônio FSH aumenta no início da fase folicular e depois diminui, a concentração do LH é inicialmente baixa e começa a subir alguns dias antes da ovulação.

Entre 34 e 36 horas antes da ovulação, aproximadamente, ocorre o início do pico de LH, sendo um preditor preciso do momento em que o óvulo será liberado.

Fase lútea

Após a liberação do óvulo, o folículo dominante se transforma em uma estrutura endócrina transitória: o corpo-lúteo. A função do corpo-lúteo é secretar progesterona, hormônio que atua no endométrio transformando-o em secretor e é fundamental para a manutenção da gravidez.

Assim como o FSH e o LH estimulam a função ovulatória, estrogênio e progesterona são responsáveis pelo preparo endometrial. O estrogênio aumenta a espessura do tecido e a progesterona diminui a atividade estrogênica proliferativa com sua ação secretora, deixando o endométrio em condições ideais para receber o embrião.

A vida útil do corpo-lúteo depende dos hormônios LH ou hCG (gonadotrofina coriônica humana, o hormônio da gravidez). Se o óvulo for fertilizado e o embrião se implantar no endométrio, o hCG começa a ser produzido e mantém o corpo-lúteo em atividade até que a placenta assuma a produção de progesterona.

Se o óvulo não for fertilizado, a função lútea começa a diminuir entre 9 e 11 dias após a ovulação, levando o corpo-lúteo à luteólise (degradação estrutural e funcional). Com isso, os níveis de progesterona caem e o endométrio descama. Assim, ocorre a menstruação e o início de um novo ciclo. 

Ovulação e período fértil

A ovulação ocorre na metade do ciclo menstrual, após o óvulo passar por um processo de maturação e o folículo dominante romper. Nesse momento, o óvulo é liberado do ovário e recolhido pela tuba uterina. Dentro da tuba, o óvulo sobrevive até 1 dia e pode ser fertilizado pelo espermatozoide se o casal tiver relações sexuais.

O período fértil é uma janela de aproximadamente 7 dias, tendo maiores chances de gravidez quando o casal tem relação 2-3 dias antes da ovulação, tendo em vista que o tempo de sobrevida dos gametas masculinos (espermatozoides) dentro do corpo da mulher é em média de até 72 horas. No dia subsequente à ovulação, as chances de gravidez são praticamente nulas.

Em ciclos ovulatórios naturais (sem uso de medicações hormonais), podem ocorrer oscilações em relação à quantidade de dias do ciclo e ao dia exato da ovulação, então podemos considerar que a janela de fertilidade também pode oscilar.

Como calcular o meu período fértil

Veja como é simples calcular o período fértil se você tem menstruação em intervalos regulares. O primeiro passo é identificar o período da ovulação. Como a segunda fase do ciclo menstrual na maioria das mulheres é fixo e dura aproximadamente 14 dias, devemos subtrair o intervalo do ciclo menstrual por 14.

Em um ciclo menstrual regular que dura 28 dias, a ovulação acontece 14 dias após o início da menstruação. Em um ciclo menstrual regular que dura 25 dias, a ovulação acontece 11 dias após o início da menstruação. Os dias próximos à liberação do óvulo (2-3 dias antes da ovulação) compreendem o período de maior fertilidade no mês.

O casal tentante deve ficar atento a esse período para não deixar escapar suas chances de concepção. Ao programar as relações sexuais com base no cálculo do período fértil, é possível extrair o máximo do potencial reprodutivo desse casal, mesmo que as relações não ocorram diariamente.

Por exemplo, se o casal tem o hábito de namorar 1 ou 2 vezes por semana, essas relações podem ocorrer nos dias de maiores chances de concepção. Assim, as probabilidades de gravidez aumentam sem gerar conflitos e estresse no relacionamento.

Esse é um tema que levanta muitas dúvidas: a frequência das relações sexuais para quem está tentando engravidar. Precisa ser todos os dias? Depende dos hábitos do casal e até das condições seminais, que o homem pode avaliar com um espermograma. O importante é que não exista pressão e discórdia entre os parceiros. 

Procurar um especialista em reprodução humana é importante para ajudar a estimar e orientar o período fértil, principalmente se você tem ciclos menstruais irregulares. Com acompanhamento médico, é possível monitorar o desenvolvimento folicular para saber exatamente quando a ovulação vai acontecer.

Lembre-se de que o período ótimo de fertilidade da mulher é até os 32 anos. Depois dessa idade, ocorre uma redução lenta na capacidade reprodutiva, que se acentua após os 35 anos, devido ao envelhecimento ovariano e ao declínio da qualidade dos óvulos.

Portanto, também é importante ficar atenta ao fator “idade” e buscar informação fidedigna e avaliação especializada para saber quais são suas condições hoje e como estará sua reserva ovariana/impacto negativo do tempo na sua fertilidade daqui a 5 anos, por exemplo.

Além disso, mesmo em mulheres mais jovens, existem várias causas de disfunções ovulatórias que podem estar por trás dos ciclos menstruais irregulares. Se essas condições não forem tratadas, as chances de engravidar podem ser menores.

Disfunções ovulatórias e infertilidade

As disfunções ovulatórias estão entre as principais causas de infertilidade feminina e, muitas vezes, estão associadas a doenças subjacentes que podem ter outras graves repercussões na saúde geral, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP), os distúrbios da tireoide e insuficiência do corpo-lúteo. Sendo assim, o tratamento é benéfico tanto para a melhora da fertilidade quanto para a restauração do equilíbrio hormonal e a prevenção de complicações endócrinas e metabólicas.

Alguns fatores psicológicos e do estilo de vida também podem afetar o pleno funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise-ovários e levar a desequilíbrios hormonais e disfunções ovulatórias, por exemplo: estresse e ansiedade; transtornos alimentares (anorexia nervosa e bulimia); obesidade ou magreza excessiva; prática extenuante de exercícios físicos; uso de esteroides anabolizantes.

Ao identificar a causa da disfunção ovulatória, podemos definir o tratamento mais adequado, que pode incluir mudanças no estilo de vida, medicações para indução da ovulação e até técnicas mais avançadas, como a fertilização in vitro (FIV), lembrando que a conduta terapêutica é individualizada, uma vez que depende da idade da mulher, das condições de saúde/fertilidade do casal, entre outros fatores.

Caso você tenha dificuldades para calcular o período fértil por ter ciclos menstruais irregulares, conte com um médico especialista. Toda conquista começa com a decisão de tentar! A procura precoce por avaliação diagnóstica e tratamento faz muita diferença nas chances de gravidez, pois amplia as possibilidades de ação, reduz a ansiedade e torna o processo menos desgastante.