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Clamídia

Por Dr. Murilo Oliveira

Cuidar da saúde, em todos os aspectos, contribui para o bom funcionamento do sistema reprodutor. Isso inclui o cuidado em relação às práticas sexuais. Você sabia que mais de um milhão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), como a clamídia, são adquiridas todos os dias no mundo?

Os números são alarmantes. É importante conhecer as complicações dessas infecções para evitar tanto contrair quanto transmitir os patógenos. Isso porque muitas pessoas não apresentam sintomas, não fazem o tratamento, mas seguem disseminando a doença.

A clamídia é uma doença infecciosa, prevenível e curável, que pode afetar mulheres e homens com vida sexual ativa. Pessoas entre 15 e 49 anos fazem parte da população que adquire a infecção, embora seja mais comum entre os jovens, que têm uma tendência maior a comportamentos de risco, como a prática de relações sexuais sem preservativos.

A doença é responsável por problemas oculares e nos tratos genital e anal. No entanto, por se tratar de uma condição muitas vezes silenciosa, as pessoas podem descobrir que foram infectadas somente anos depois, quando enfrentam a infertilidade.

Se não for corretamente tratada, a infecção por clamídia pode deixar sequelas no trato reprodutivo. A falta de tratamento também aumenta o risco para outras doenças infecciosas, incluindo o vírus da imunodeficiência humana (HIV).

Causa da clamídia e fatores de risco

A clamídia é causada pela bactéria Chlamydia trachomatis. A principal forma de transmissão é o contato com as secreções da pessoa infectada por meio da relação sexual sem preservativos (vaginal, oral e anal).

O contágio também pode ocorrer por transmissão vertical, que ocorre quando a mãe passa a bactéria para o bebê na gestação ou no momento do parto. O recém-nascido infectado pode ter infecções oculares e pneumonia. Outro risco obstétrico associado é o parto prematuro.

A clamídia não é a única IST de alta prevalência. Outras doenças infecciosas comuns e que também podem ter impacto na saúde sexual e reprodutiva são: gonorreia, sífilis e tricomoníase, além das infecções virais, como o herpes simplex genital e o papilomavírus humano (HPV) — este último tem forte associação com o câncer de colo do útero.

Os fatores de risco para a infecção por clamídia ou outras ISTs incluem:

  • relações sexuais sem preservativos;
  • múltiplas parcerias sexuais;
  • idade, sendo mais comum entre os jovens com menos de 25 anos;
  • início precoce da vida sexual;
  • histórico de outra IST.

Não há vacina para a prevenção da infecção por clamídia, mas é possível evitar o contágio com uma medida simples: o uso correto e habitual de preservativos sexuais.

Sinais e sintomas de clamídia

A clamídia é assintomática em muitos casos ou apresenta apenas sintomas leves. Quando é sintomática, as manifestações ocorrem até três semanas após o contágio.

Os principais sintomas femininos são:

  • corrimento vaginal anormal;
  • dor na parte inferior do abdômen;
  • desconforto e queimação ao urinar;
  • sangramento após a relação sexual;
  • sangramento fora do período menstrual.

No homem, os sintomas mais comuns são:

  • ardor ao urinar;
  • secreção peniana;
  • dor nos testículos.

Tanto a mulher quanto o homem também podem ter sintomas de infecção na região anal, como dor e sangramento. Além disso, a clamídia pode infectar os olhos e a garganta, mas nem sempre há manifestações.

Há um tipo mais grave e relativamente raro de infecção por clamídia, o linfogranuloma venéreo (LGV), que pode se manifestar com úlcera genital, inflamação anorretal com corrimento, alterações intestinais (diarreia ou constipação e dor ao evacuar) e aumento dos gânglios linfáticos.

Exames para o diagnóstico de clamídia

A avaliação da história sexual e dos fatores de risco é o primeiro passo para o diagnóstico de clamídia. O exame físico também pode revelar indícios da infecção. 

O método mais eficaz de investigação é o uso de testes moleculares. Amostras de secreção endocervical (na mulher) e uretral (no homem) são analisadas com a técnica laboratorial PCR- reação em cadeia da polimerase, que permite a amplificação de fragmentos de DNA.

Diante da confirmação de clamídia, recomenda-se também que sejam feitos testes para outras ISTs. Além disso, é importante notificar o(s) parceiro(s) sexual(ais), que devem ser examinados e tratados para evitar a disseminação da infecção.

Tratamento da clamídia

A clamídia é uma condição tratável e curável. O tratamento é simples, envolve o uso de medicamentos antibióticos. Quando a doença é diagnosticada e tratada precocemente, o risco de impactos na fertilidade é baixo.

Há situações, no entanto, em que a infecção se alastra pelo trato reprodutivo, causando vários processos de inflamação. As mulheres podem desenvolver a doença inflamatória pélvica (DIP), que chega a afetar simultaneamente o colo do útero (cervicite), a camada interna uterina (endometrite), as tubas uterinas (salpingite) e os ovários (ooforite).

A DIP está associada a infertilidade feminina, dor pélvica crônica e risco aumentado para gravidez ectópica. Isso ocorre principalmente quando há sequelas, como:

  • endometrite crônica — inflamação que reduz a receptividade do endométrio e afeta o processo de implantação do embrião;
  • hidrossalpinge — acúmulo de líquido no interior da tuba, que afeta a movimentação dos gametas e o transporte do embrião.

No homem, a clamídia pode causar inflamação na uretra (uretrite) e nos epidídimos (epididimite). Se houver formação de tecido cicatricial em resposta ao processo inflamatório, podem ocorrer obstruções no trato reprodutivo que impedem a saída dos espermatozoides.

A fertilização in vitro (FIV) é um caminho para melhorar as chances de o casal engravidar. A indicação para esse tratamento avançado pode ser feita de acordo com os resultados de uma avaliação detalhada e individualizada de cada casal.

Recomendamos que o acompanhamento especializado seja feito antes de você tentar engravidar. Assim, podemos identificar problemas no trato reprodutivo, como as possíveis sequelas da clamídia, otimizar a fertilidade do casal e maximizar as suas chances de ter uma gestação saudável.