Você sabia que até 30% dos casos de infertilidade são causados por anovulação? Felizmente, muitos dos tratamentos são simples, incluindo mudanças no estilo de vida e uso de medicações hormonais. Se você desconfia que tem um problema ovulatório, consulte um especialista!
A anovulação é a condição em que os ovários não liberam óvulos de forma cíclica. Em ciclos menstruais regulares, a mulher libera um óvulo maduro por mês. Sendo assim, quem tem disfunção ovulatória ovula poucas vezes no ano e tem uma menor chance de engravidar.
A falha na ovulação pode resultar de uma variedade de fatores, desde condições do estilo de vida que provocam desequilíbrio hormonal até doenças endócrinas, como a síndrome dos ovários policísticos (SOP).
A anovulação não é uma doença, mas um sinal de que algo está afetando a saúde do sistema reprodutor. Entretanto, o problema pode ser superado, inclusive com tratamentos de baixa complexidade.
Para entender o que é anovulação e sua relação com a infertilidade feminina, é preciso, primeiramente, compreender o que ocorre em um ciclo ovulatório normal.
A ovulação é o resultado de um processo cíclico de crescimento e maturação de folículos ovarianos, orquestrado por um conjunto de hormônios do eixo hipotálamo-hipófise-ovários (HHO).
O estímulo inicial vem do hipotálamo, que secreta o hormônio liberador de gonadotrofinas (GnRH). Em resposta, a hipófise libera o hormônio folículo-estimulante (FSH) e o hormônio luteinizante (LH). FSH e LH são chamados de gonadotrofinas porque têm a função de estimular as gônadas (ovários, na mulher; testículos, nos homens).
No início do ciclo menstrual, a elevação na concentração de FSH leva ao recrutamento de um grupo de folículos ovarianos, um deles é selecionado e se torna dominante. Aproximadamente 2 semanas após o início da menstruação, um pico de LH provoca o amadurecimento final e a ruptura do folículo dominante. Assim, a ovulação acontece.
Quando é liberado do ovário, o óvulo é captado pela tuba uterina e levado para o local da fertilização (encontro com o espermatozoide). Se o casal tiver relações sexuais próximo ao dia da ovulação, há chances de o óvulo ser fecundado e a gravidez acontecer.
Qualquer alteração no ciclo ovulatório pode resultar em falha na liberação de um óvulo, impedindo a fecundação e a gravidez.
A causa mais frequente de anovulação crônica é a SOP, uma síndrome endócrino-metabólica que afeta em torno de 5% a 16% das mulheres em idade reprodutiva. Além da infertilidade, essa síndrome pode ter implicações na saúde geral, como risco aumentado para diabetes tipo 2 e doença cardiovascular.
Outras causas endócrinas de disfunções ovulatórias são o hipotireoidismo e a hiperplasia adrenal congênita. Entre os fatores hipotalâmicos e hipofisários que provocam anovulação, estão:
Algumas condições relacionadas ao estilo de vida também podem alterar o funcionamento do eixo hipotálamo-hipófise, causando desequilíbrio hormonal e anovulação, tais como: estresse, obesidade, peso corporal extremamente baixo, prática excessiva de exercícios físicos, uso de determinados medicamentos, tabagismo, entre outros.
Tratamentos oncológicos como quimioterapia e radioterapia pélvica ou na região da cabeça podem ter impactos negativos, transitórios ou permanentes, na função ovulatória. A paciente deve ser previamente informada sobre a possibilidade de congelar seus óvulos como forma de preservar a fertilidade.
Outras possíveis causas de anovulação incluem síndromes genéticas, cirurgia na hipófise ou nos ovários e falência ovariana prematura idiopática.
A investigação da anovulação é importante para determinar as causas e nortear o tratamento adequado. Os principais sinais de disfunções ovulatórias são infertilidade e irregularidades menstruais, como amenorreia (ausência de menstruação) e oligomenorreia (menstruação infrequente e com intervalos muito longos entre um período e outro).
Outros sinais clínicos podem ser observados, dependendo da causa da anovulação. Na SOP, por exemplo, há manifestações de hiperandrogenismo, como queda de cabelo, crescimento de pelos em locais incomuns e acne.
Além da observação de sinais e sintomas, a avaliação clínica abrange a coleta de informações sobre história médica e cirúrgica, história detalhada da menstruação, atividade sexual, práticas contraceptivas, entre outros dados.
Os exames solicitados dependem da suspeita do especialista, mas podem incluir dosagens hormonais, ultrassonografia transvaginal e avaliação de síndrome metabólica.
O tratamento medicamentoso, quando necessário, é feito de acordo com as causas diagnosticadas. Como medida primária, é importante realizar um controle nutricional e aderir à prática regular de atividades físicas moderadas.
As mulheres que desejam engravidar podem receber medicação para estimular a ovulação. Ao contrário do que muitas pacientes pensam, o tratamento da anovulação não é normalmente feito com fertilização in vitro (FIV). No entanto, apesar de essa não ser a primeira opção, pode sim ser necessária em algumas situações, dependendo de outros fatores.
Um ponto importante a considerar é a idade da mulher. Uma paciente com mais de 35 anos, por exemplo, já tem o tempo como um fator adverso à sua fertilidade. Sendo assim, é arriscado esperar pelos resultados das condutas mais simples. Nesses casos, podemos associar as mudanças no estilo de vida a um tratamento de reprodução humana mais avançado.
Vale lembrar que o fator masculino também deve ser avaliado, mesmo que seja comprovada a anovulação crônica da mulher. A investigação da infertilidade conjugal abrange exames para ambos os parceiros.
Tratar somente a disfunção ovulatória pode envolver condutas simples, mas, quando há problemas femininos e masculinos, tratamentos mais complexos podem ser necessários. Em 30% dos casais com infertilidade, tanto a mulher como o homem apresentam problemas de maneira concomitante. Nesse contexto, tratar apenas a mulher seria ineficaz para aumentar as chances de gravidez. Ambos precisariam ser otimizados.
Mudanças no estilo de vida são recomendadas em qualquer situação, seja antes de um tratamento mais avançado, seja concomitante a ele. Inclusive, algumas mulheres conseguem engravidar nesse período, ainda antes de partir para a técnica de alta complexidade.
A indução da ovulação, quando indicada, pode começar com o uso de medicações indutoras da ovulação via oral. Caso não dê resultado, podemos utilizar injeções de hormônios, semelhantes às que são usadas para estimulação ovariana na FIV, mas em uma dose muito menor. Se ainda não tivermos um resultado positivo, seguimos para a FIV.
O importante é sempre individualizar o tratamento, após uma avaliação detalhada do casal. Com orientação e estratégias personalizadas, é possível vencer a anovulação e outros fatores para superar os desafios da infertilidade.