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Adenomiose

Por Dr. Murilo Oliveira

O motivo de você não conseguir engravidar pode estar relacionado ao seu útero. Várias doenças podem modificar o órgão responsável por receber o embrião, abrigar e nutrir o feto durante os 9 meses de gestação, e a adenomiose é uma delas. O primeiro passo para saber se esse é o seu fator de infertilidade é realizar uma investigação detalhada.

A adenomiose é uma condição inflamatória e estrogênio-dependente. As lesões dessa doença ocorrem quando células de endométrio crescem dentro do miométrio — são camadas adjacentes que constituem a parede uterina. 

O endométrio é a camada interna do útero, onde o embrião implanta para dar início à gestação. O miométrio é o tecido que ocupa a camada intermediária da parede uterina, sendo formado por feixes de musculatura lisa que auxiliam nas contrações de parto e na expansão do útero durante a gravidez.

O útero precisa estar saudável para cumprir suas funções e oferecer um bom ambiente para o embrião implantar. A adenomiose pode prejudicar esse processo de implantação embrionária ou o desenvolvimento da gravidez. Sendo assim, essa é mais uma razão para você passar por uma investigação detalhada, baseada na experiência clínica do seu médico e com o auxílio dos recursos diagnósticos que temos atualmente para avaliar a cavidade uterina.

Causas e fatores de risco para a adenomiose

As causas da adenomiose não são definitivamente conhecidas. A teoria mais aceita é sobre a ruptura da fronteira entre o endométrio basal e o miométrio. Com isso, ocorre a proliferação inadequada de células endometriais, bem como alterações vasculares na camada miometrial.

Outra teoria aborda a possibilidade de existirem células-tronco pluripotentes remanescentes, ou seja, capazes de dar origem a qualquer tecido do corpo humano. Essas células presentes no miométrio poderiam passar por diferenciação inapropriada, originando o tecido endometrial fora de seu local normal.

Entre os fatores de risco para adenomiose, estão:

  • procedimentos no útero, como curetagem feita após parto ou aborto, cesariana e cirurgias para tratar outras doenças uterinas (mioma, pólipo etc.);
  • multiparidade (ter passado por 2 ou mais gestações);
  • condições que aumentam a exposição ao hormônio estrogênio, por exemplo, primeira menstruação muito nova, ciclos menstruais curtos, uso de pílulas anticoncepcionais por período prolongado, sobrepeso e obesidade.

Vale esclarecer que o estrogênio tem importante papel no ciclo menstrual, é responsável por impulsionar o crescimento das células endometriais. Isso é necessário para deixar o endométrio com mais espessura e apropriado para um embrião implantar. No entanto, esse mecanismo de proliferação celular em local anormal resulta em reação inflamatória — é o que acontece na adenomiose e em outras doenças estrogênio-dependentes, principalmente a endometriose.

Também é oportuno deixar claro que adenomiose e endometriose, embora tenham mecanismos semelhantes e possam coexistir, não são a mesma doença. Quando o tecido endometrial cresce no miométrio, temos a adenomiose. Já as lesões endometrióticas são encontradas fora do útero, em outros órgãos da região pélvica, como intestino e ovários.

Sintomas de adenomiose

Os sintomas de adenomiose se assemelham aos de várias outras doenças ginecológicas, portanto, não são específicos. Além disso, a patologia é assintomática em cerca de um terço das mulheres com esse diagnóstico.

Os principais sintomas são:

  • fluxo menstrual abundante;
  • cólicas menstruais intensas;
  • dor pélvica;
  • dor na relação sexual;
  • sensação de pressão, devido ao aumento do útero.

A dificuldade para engravidar também é apontada como um dos sinais de adenomiose. Embora os dados gerais na literatura ainda sejam inconclusivos para determinar a relação entre essa doença e a infertilidade feminina, alguns estudos revelam que a adenomiose afeta negativamente as taxas de gravidez e os resultados dos tratamentos com fertilização in vitro (FIV), além de aumentar o risco de abortamento.

Investigação para o diagnóstico de adenomiose

O ponto de partida para todo percurso de investigação diagnóstica é a avaliação clínica. Na primeira consulta, vamos conversar sobre tudo que está relacionado à sua saúde reprodutiva e de seu parceiro. Assim, podemos otimizar as estratégias para descobrir qual é a causa da infertilidade do casal e definir o melhor caminho para superar os desafios.

Há três pilares na nossa investigação da infertilidade: avaliar os gametas; avaliar o trajeto que os gametas precisam cumprir para chegar ao local da fecundação; avaliar o processo de implantação do embrião no útero.

Tanto a baixa qualidade do embrião quanto as alterações uterinas, como a adenomiose, podem interferir negativamente na implantação embrionária, lembrando que, para ter um embrião com boa qualidade, precisamos unir um bom óvulo e um bom espermatozoide.

Devido à variedade de doenças ginecológicas com sintomas semelhantes aos da adenomiose, não temos precisão no diagnóstico clínico. Ao exame físico, é possível identificar o útero aumentado e com formato anormal. Ainda assim, precisamos de exames complementares, os quais incluem as seguintes técnicas de imagem:

  • ultrassonografia transvaginal;
  • ressonância magnética da pelve.

Uma investigação malfeita, muitas vezes, atrasa o diagnóstico correto e o tratamento, fazendo a paciente perder tempo precioso em seus planos de maternidade, pois quanto mais a idade avança, mais a fertilidade reduz. Portanto, precisamos aprofundar essa avaliação e focar também no diagnóstico diferencial, que inclui pólipos, miomas e outras alterações endometriais. Cada doença precisa de um tratamento específico.

Tratamento da adenomiose

O primeiro aspecto a considerar para definir a conduta terapêutica é a vontade de engravidar da paciente. Diante disso, vamos olhar com atenção para os resultados da avaliação feminina e masculina — é fundamental também considerar as condições do parceiro — para seguir na direção certa.

Nosso passo a passo estratégico é: investigar os fatores de infertilidade; otimizar a saúde reprodutiva do casal com suplementação, se necessário, e mudanças no estilo de vida (melhorias dietéticas, prática regular de atividades físicas e abstenção ou redução de hábitos nocivos); e, depois disso, vamos avaliar as possibilidades para definir um tratamento personalizado.

Se o único fator de infertilidade do casal for a adenomiose, é importante tratar ou controlar essa doença antes de partir para as tentativas de gravidez.

Quando se opta pela FIV, outra possibilidade para controlar a inflamação no ambiente uterino, antes da etapa de transferência dos embriões para o útero, é fazer uma suplementação e mudanças dietéticas focando em gerar um ambiente anti-inflamatório uterino.

Para as mulheres que não querem engravidar, as opções de tratamento para adenomiose incluem o uso de analgésicos e anti-inflamatórios não esteroidais (AINEs), que ajudam a amenizar os sintomas, além de terapia hormonal com anticoncepcionais orais combinados e/ou dispositivo intrauterino hormonal que controlam a ação estrogênica. 

Quanto à indicação para cirurgia, mulheres que já têm filhos podem fazer uma histerectomia (retirada parcial ou total do útero), que é a abordagem para a cura definitiva da adenomiose.

Dependendo dos seus objetivos, da sua idade e dos fatores gerais de infertilidade do casal, o tratamento com FIV pode ser o caminho mais promissor para você chegar à gravidez. Antes dessa indicação, no entanto, podemos tentar outras estratégias para melhorar as chances de concepção, sempre com empatia, olhar individualizado e respeito às suas escolhas.