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Fertilização in vitro (FIV)

Por Dr. Murilo Oliveira

Se o único caminho para realizar o sonho de engravidar e ter seu filho nos braços fosse com um tratamento médico, você faria? 

Muitas pessoas, quando procuram avaliação médica devido à dificuldade de engravidar, são resistentes à possibilidade de fazer uma fertilização in vitro (FIV) — por desconhecimento, crenças, questões financeiras ou inúmeros outros motivos —, mas não sabem que, em todo o mundo, essa técnica já ajudou mais de 10 milhões de crianças a nascerem.

A FIV é uma técnica de alta complexidade da reprodução humana assistida, que consiste na coleta dos óvulos, fertilização em laboratório e cultivo dos embriões em incubadora. Após poucos dias de acompanhamento, os embriões são transferidos para o útero.

Vale esclarecer que muitas pessoas se confundem e utilizam o termo “inseminação artificial” como forma genérica de se referir a qualquer tratamento de reprodução humana assistida. No entanto, existem duas técnicas diferentes: a FIV e a inseminação intrauterina (IIU). 

A IIU é de baixa complexidade e se diferencia da fertilização in vitro, pois o óvulo é fecundado dentro do corpo da mulher, após uma amostra de sêmen ser processada e introduzida no útero durante o período fértil.

O primeiro tratamento bem-sucedido com FIV aconteceu em 1978, na Inglaterra. Depois disso, muitos avanços aconteceram no campo da medicina reprodutiva. Hoje, inúmeros fatores de infertilidade podem ser superados com essa técnica.

A fertilização in vitro é mais que um tratamento, é um meio para gerar, transformar e ajudar os casais a alcançarem seu propósito de vida. Para muitas pessoas, a FIV representa a única chance de ter filhos. Contudo, antes de chegar a essa indicação, o casal precisa ser detalhadamente avaliado para que o seu tratamento seja o mais individualizado possível.

Indicações para o tratamento com FIV

Aproximadamente, 10% dos casais enfrentam dificuldades para engravidar e isso se deve a diversos fatores, femininos e masculinos. Após uma investigação aprofundada, podemos melhorar as chances de gravidez com mudanças no estilo de vida, que proporcionam a otimização da fertilidade, ou precisamos pensar em tratamentos — de baixa ou alta complexidade.

A FIV pode ser recomendada diante dos fatores mais complexos de infertilidade. Veja as indicações:

  • idade materna avançada;
  • baixa reserva ovariana;
  • obstrução das trompas ou tubas uterinas;
  • endometriose;
  • alterações masculinas (na concentração, motilidade ou morfologia de espermatozoides);
  • reprodução de casais homoafetivos;
  • maternidade ou paternidade independente;
  • preservação da fertilidade com congelamento de embriões;
  • infertilidade sem causa aparente (ISCA), após o tratamento sem sucesso com as técnicas de baixa complexidade (coito programado e inseminação intrauterina);
  • situações em que a gravidez oferece riscos à mulher, sendo necessário contar com a cessão temporária de útero ou barriga solidária;
  • situações em que o casal precisa de doação de óvulos;
  • indicação para o teste genético pré-implantacional (PGT), que rastreia alterações nos genes e cromossomos dos embriões.

Etapas da fertilização in vitro

O processo de FIV começa com uma consulta detalhada, na qual criamos um plano personalizado, com os protocolos e, se necessário, técnicas complementares para cada situação. Antes do tratamento, a mulher também passa por exames específicos para a avaliação da reserva ovariana.

Mas antes de iniciamos o passo a passo do tratamento com FIV, temos um passo que é fundamental:

Preparação (ou investigação e otimização)

Fazer uma avaliação completa do casal é fundamental para saber os diagnósticos precisos que aquele casal tem e para poder otimizar ambos. O grande objetivo é reduzir o impacto dos fatores de infertilidade presentes e alcançar o potencial máximo de cada casal. Por isso, nessa etapa de preparação, nós complementamos a investigação do casal e fazemos uma otimização.

A investigação completa permite indicar o tratamento mais adequado. É comum encontrar um problema na fertilidade e atribuir toda a dificuldade a esse problema, mas em 30% dos casais existe mais de um problema que afeta a fertilidade, seja em um dos parceiros, seja em ambos. Sem essa investigação, estaríamos tratando a fertilidade do casal parcialmente e deixando de oferecer o tratamento mais adequado.

A otimização consiste em reduzir o impacto de fatores negativos para a fertilidade daquele casal. Temos que otimizar ao máximo a qualidade oocitária, espermática e de receptividade endometrial. Isso nos permite aumentar as chances de gravidez para evitar mais frustrações desnecessárias.

Estimulação ovariana

Os ovários são estimulados com medicamentos hormonais específicos que ajudam a obter mais óvulos para a fertilização. No ciclo ovulatório natural, geralmente apenas um óvulo é liberado. A estimulação ovariana maximiza as chances de sucesso da FIV ao possibilitar o desenvolvimento e a coleta de múltiplos óvulos.

Esse processo de crescimento dos folículos e amadurecimento dos óvulos, conhecido como desenvolvimento folicular, é cuidadosamente monitorado com ultrassonografias.

Coleta de óvulos

A coleta de óvulos é um momento importante e cheio de expectativas, pois quanto maior o número de óvulos coletados, maiores são as chances de formar embriões que possam resultar em uma gravidez. 

O procedimento é feito sob leve sedação para garantir o conforto da paciente e envolve a retirada dos óvulos que se desenvolveram. Isso é feito com o auxílio de uma agulha que aspira o líquido contido nos folículos ovarianos. Cada folículo contém um óvulo e, se ele estiver livre no conteúdo folicular, conseguimos coletar o óvulo e enviar para avaliação no laboratório.

Fertilização

Depois da coleta, os óvulos são fertilizados em laboratório. A fertilização é realizada com injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI) no óvulo maduro. Com essa técnica, podemos micromanipular os gametas masculinos para injetá-los, um a um, dentro de cada óvulo selecionado.

O material masculino passa previamente por métodos específicos de preparo seminal que permitem selecionar os espermatozoides com boa qualidade (com motilidade progressiva e morfologia adequada).

Cultivo embrionário

Os óvulos fecundados são mantidos em incubadora de alta tecnologia que simula o microambiente da tuba uterina, local em que naturalmente o espermatozoide encontra o óvulo e em que o embrião se desenvolve. Existem diversos tipos de incubadora. Uma delas pode estar acoplada a uma tecnologia chamada time-lapse, que tira fotos sequenciais, permitindo uma avaliação contínua sem precisar retirar o embrião do ambiente controlado. 

Pode-se, ainda, associar a avaliação com softwares de inteligência artificial, que atribui uma nota ao processo evolutivo do embrião, avaliando diversas características do seu desenvolvimento que seriam humanamente impossíveis de serem avaliadas. Essas informações podem nos auxiliar na escolha do embrião com maior potencial de implantação.

Transferência de embriões

Essa é uma etapa muito esperada! Os embriões mais promissores são escolhidos e transferidos para o útero materno. Para o procedimento, utilizamos um cateter específico e posicionamos os embriões em local adequado na cavidade uterina, com a expectativa de que ocorra a implantação.

Os embriões podem ser transferidos a fresco (no mesmo ciclo em que os óvulos foram fertilizados) ou após congelamento, dependendo do protocolo indicado. Além disso, se houver embriões excedentes (em número maior que o permitido para a transferência), eles são congelados para novas tentativas no futuro.

Aproximadamente duas semanas após a transferência dos embriões, realizamos um teste de gravidez, com a esperança de um resultado positivo.

Técnicas complementares

Cada tratamento é personalizado, elaborado com base nas características de cada casal. Sendo assim, em alguns casos, é preciso incluir técnicas que complementam o processo de FIV, como:

  • criopreservação — permite congelar óvulos e sêmen para preservação da fertilidade e os embriões excedentes após um ciclo de FIV, além do método freeze-all (congelamento de todos os embriões gerados em um ciclo) quando há indicação para transferência em ciclo posterior;
  • PGT — o objetivo é fazer a biópsia e a análise embrionária para rastrear alterações cromossômicas e/ou genéticas, antes da transferência para o útero (na fase de cultivo);
  • doação de gametas — os casais que não podem ter filhos com óvulos ou espermatozoides próprios podem contar com a doação de gametas para seguir com seu tratamento de reprodução;
  • barriga solidária — as mulheres que têm problemas uterinos graves ou outra condição de saúde que contraindique a gestação, bem como os casais homoafetivos masculinos, podem gerar seus filhos com a ajuda de uma terceira pessoa, que aceite participar do tratamento como cedente temporária de útero.

Taxas de sucesso da FIV

As taxas de sucesso da fertilização in vitro dependem de muitos fatores, incluindo: idade da mulher; número de óvulos coletados e fertilizados; qualidade dos embriões (precisamos de um bom óvulo e um bom espermatozoide para formar um embrião de qualidade); e receptividade do endométrio (tecido que reveste o útero por dentro).

Mulheres com menos de 35 anos chegam a ter 50% ou mais de chance de uma gravidez bem-sucedida a partir do tratamento com FIV. Entre os 38 e 40 anos, as taxas reduzem para menos de 30%. Após os 42 anos, as chances ficam abaixo dos 5%.

A FIV não é garantia de sucesso, mas aumenta consideravelmente as chances do esperado teste de gravidez positivo. Contudo, antes do tratamento, podemos tentar outras estratégias para extrair o máximo do potencial de cada casal e, quem sabe, conseguir maximizar as chances de uma gestação, seja ela espontânea, seja por meio de tratamentos. Seja qual for o caminho, o importante é o resultado: ter o seu bebê em casa!